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Proposta de redação com texto de Marcel Proust

Exemplo de redação


Quando o sol da cultura está baixo, até os mais ínfimos seres emitem luz
Marcel Proust, grande escritor e exemplo máximo de uma vida dedicada unicamente à leitura e à literatura, disse em seus escritos "cada leitor, quando lê, é um leitor de si mesmo". O que Proust evidencia nessa frase deixa em aberto uma série de interpretações que podem ser realizadas a partir do hábito entusiástico e não visto como uma obrigação, peia leitura.
Estar em contato com o universo das palavras e nele encontrar uma atividade prazerosa, ao mesmo tempo que nos leva a absorver todo o conhecimento exterior, também nos conduza uma busca de tudo que representa algo de nós mesmos nesse conhecimento que chega até nós. Em cada nova leitura, ocorre algo semelhante a uma lapidação de nossos desejos e predileções.
Os livros constituem um tipo de transporte de conhecimento diferente da televisão por exemplo, onde as informações são transmitidas a todo o momento, e para tal, só precisa de nossa permissão para a passagem de suas imagens através de nosso córtex. O nível de saber que podemos extrair de um livro possui o mesmo limite de nossa vontade de fazê-lo. E, ao contrário das informações "prontas" da televisão, temos a total liberdade de interpretação, o que confere o aperfeiçoamento de nosso senso crítico e o melhoramento de como nos posicionamos diante do mundo.
O hábito da leitura não possui caráter elitista e nem está associado ao poder aquisitivo. Em qualquer cidade, por menor que seja, há uma biblioteca, basta que tenhamos interesse em desvendar todo o mistério contido nela. Ao ler, nos tornamos mais cultos, mais seguros de nossas convicções, nos expressamos e escrevemos melhor. Medidas públicas devem ser realizadas para garantir essa acessibilidade e assim, seus respectivos países possam brilhar, iluminados peio sol da cultura.
(Fonte: Inep)


Análise da redação


IDEIA INSPIRADORA: a redação, aprovada pelos avaliadores do Enem, valeu-se de uma citação para norteara argumentação. Além disso, o candidato agregou valora coletânea oferecida ao citar Marcel Proust, um dos mais importantes escritores do século 20. 0 autor apresentou a ideia de Proust-todo leitor é um leitor de si mesmo-como um convite à multiplicidade de interpretações, já que sempre existirá o filtro da subjetividade de cada leitor. Aceitou, assim, o difícil desafio de percorrer um caminho argumentativo a partir de uma ideia inicial bastante ampla.
No segundo parágrafo, o candidato soube delimitar a exploração do tema ao argumentar que a leitura de "si mesmo" é um diálogo entre os planos subjetivo e objetivo: o leitor absorve o conhecimento e nele se espelha.

ARGUMENTAÇÃO INCONSISTENTE: a argumentação não foi tão clara no parágrafo seguinte. Buscando defender a tese de que o livro é superior à televisão na transmissão do conhecimento, o autor afirmou que o primeiro oferece liberdade de interpretação. Ele insinuou, assim, que
a televisão não oferece tal liberdade, mas não apresentou argumentos claros. Pouco se depreende da afirmação de que a televisão "só precisa de nossa permissão para a passagem de suas imagens através de nosso córtex". Talvez a ideia fosse argumentar que a apreensão das imagens televisivas não é controlada pelo espectador, enquanto no livro é possível ir e vir em busca de informações, conforme a vontade do leitor.

Logo depois do exemplo da televisão, o autor retoma a ideia principal de que a leitura aperfeiçoa o senso crítico. No parágrafo seguinte, ele amplia o alcance do texto ao sugerir uma aplicação prática da tese defendida: a democratização do acesso ao conhecimento. Apesar do cliché - "iluminados pelo sol da cultura" -, a conclusão de que a sociedade é beneficiada pela leitura manteve a coerência da dissertação.

Quanto ao título, é necessário apontar um vício: o uso de linguagem rebuscada. Além do cliché do "sol da cultura", a afirmação de que "até os mais ínfimos seres emitem luz" pouco acrescenta às ideias defendidas - com muito mais sobriedade - no texto.

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